Desafios que a pandemia COVID-19 trará para as instituições geriátricas

Desafios que a pandemia COVID-19 trará para as instituições geriátricas
Junho 5, 2020 admin
In Artigo de Opinião

Dr.ª Cristiana do Nascimento

Licenciada em Psicologia das Organizações, Licenciada em gerontologia, especialista em Psicologia Social e das Organizações, especialista em psicogerontologia, especialista em cuidados paliativos, Mestre em Gestão das Organizações, Sócia fundadora e Diretora do Grupo CASA MAIOR Residências Geriátricas, SA; formadora e consultora na área da geriatria e gerontologia.

Em janeiro de 2020, as Instituições Geriátricas a nível Europeu foram confrontadas com uma realidade nunca antes vivenciada. Aquele que poderá ser considerado um dos maiores desafios do século XXI, provocou várias mudanças, abalando definitivamente o funcionamento das Estruturas Residenciais para Idosos (ERPI).

Itália, França, Espanha, viveram situações altamente dramáticas neste tipo de Estruturas Residenciais, tendo sido várias vezes apelidadas por “morgues”, “antecâmaras da morte” ou “massacre silencioso”.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no continente europeu, mais de metade das mortes associadas à COVID-19 ocorreram em Instituições Geriátricas. Espanha, Itália, Bélgica, Holanda e Inglaterra foram alguns dos países fustigados pela COVID-19, em que a escassez de equipamentos de proteção individual; falta de recursos variados; sobrecarga dos hospitais; admissão de novos idosos em ERPI’s sem necessidade de isolamento, bem como a ausência de testes de despiste aos mesmos, ditou várias sentenças de morte.

Em Portugal estima-se que aproximadamente 15% das ERPI’s tiveram casos de infeção por COVID-19, um valor inferior ao de outros países europeus.

Testes massivos a idosos e profissionais; fabrico de equipamento de proteção individual, nomeadamente máscaras e viseiras, por parte de empresas e/ou particulares que se uniram em missões solidárias e altruístas de proteção aos mais idosos; indicações expressas para isolamento de 14 dias para novas admissões, ou após internamentos hospitalares; isolamento de residentes com qualquer sintoma que pudesse indiciar um caso de infeção; proibição de entrada de visitas ou pessoas externas às Instituições; medidas de desinfeção permanentes; uso de equipamento de proteção individual (EPI’s), bem como recurso a Equipas em espelho, foram algumas das medidas que evitaram consequências catastróficas.

Foram muitas as Instituições que num curto espaço de tempo tiveram que repensar estratégias, alterar modos de funcionamento, dar azo à imaginação e trabalhar com aquilo que não é prata, mas sim o “ouro da casa”.

As ERPI’s passaram a ter equipas a trabalhar 14 dias em regime de internamento, viram-se confrontadas com a necessidade de cancelar prestações de serviços, nomeadamente terapias de reabilitação e ocupação que eram até então tão habituais. Tudo em prol do bem-estar e segurança dos residentes.

As novas tecnologias brilharam com todo o seu esplendor, do longe fez-se perto, os abraços físicos passaram a virtuais, as famílias viam-se através de vidros e ecrãs. Nunca estiveram tão longe e tão perto.

Estes foram, além de desafios, verdadeiras oportunidades de crescimento, oportunidade de abrir novos horizontes, de trilhar novos caminhos, definir novos olhares sobre o processo de envelhecimento e de proteção aos mais velhos.

A boa disposição foi uma arma essencial nesta pandemia. As atividades lúdicas, de estimulação física e cognitiva, multiplicaram-se para se viverem meses de confinamento com o menor impacto possível.

De concertos à varanda; almoços temáticos; almoços no jardim; concursos; sessões de beleza; encontros virtuais intergeracionais; tardes de poesia; musicais; aulas de ginástica; sessões de culinária; passeios no jardim; hortas terapêuticas, foram algumas das mais variadas formas de ocupar o corpo e a mente.

Porém, os desafios sucedem-se, manter equipas motivadas, residentes emocional e psicologicamente estáveis, transmitir segurança e confiança às famílias, gerir visitas sedentas de um abraço, são alguns dos desafios presentes e futuros.

Por conseguinte, é fundamental que os profissionais sejam uma Equipa, e não um conjunto de pessoas que trabalham juntas. O reconhecimento e envolvimento na visão e missão institucional são determinantes.

Uma conduta de partilha, transparência, verdade e responsabilização para com os profissionais, os residentes e os significativos. Só desta forma será reconhecida e aceite a necessidade de adoção de determinadas medidas.

Com a convicção de que durante os últimos meses navegamos em mares, nunca antes navegados, mas que são uma aprendizagem e que há práticas adotadas que não deverão ser abandonadas.

As tecnologias revelaram-se um suporte fundamental no funcionamento das ERPI’s, no auxílio da gestão diária dos vários setores envolvidos, bem como nas relações familiares dos residentes.

As reuniões presenciais são substituídas por reuniões à distância, permitindo o normal funcionamento dos turnos e evitando deslocações fora dos horários de trabalho. O mesmo princípio aplica-se a ações formativas, comumente declinadas por incompatibilidade de horário, assim como o recurso a teleconsultas, sempre que possível, evitando idas desnecessárias a contextos hospitalares.

Finalmente, mas não menos importante, o espirito de missão, entreajuda e solidariedade, têm sido os valores chave no controlo desta pandemia. Nesta nova forma de trabalhar, em que tivemos que aprender a sorrir com olhos, que sejamos todos movidos pela energia dos sorrisos.